Quando e como o Beato Antônio de Categeró chegou ao Brasil?
Nosso estudo sobre o Beato Santo Antônio de Categeró ressalta uma série de devoções católicas de negros, a maioria escravos, ocorridas no mesmo período e território, beatificados e perdidos no tempo. Talvez, seja essa, a maior indagação de nossa pesquisa, que há anos se arrasta no entendimento, mais profundo, do que seja isso e a territorialidade desse processo. Existe uma série de indicações histórico-materiais, sobre datas, padres, localidades, conventos de mesmo nome de localidades diferentes e, de informações que indicam e corroboram, a quase garantida possibilidade, de que o beato Santo Antônio de Categeró, tenha vindo através da ação direta, mas, discreta de padres italianos da Companhia de Jesus, do Sul da Itália. Nossa busca quer saber quem o trouxe, em que data ocorreu, de que local saiu e, em que local chegou, são respostas ainda inconclusivas, apesar dos esforços. E, nesse esforço está o de entender o que era o Reino da Sicília, à época dos fatos, com tantos negros beatificados, muitos mártires. Qual é a importância local e histórica disso? E, sempre que fazemos qualquer referência, dessa espécie, falando por qualquer situação, em Reino da Sicília, imediatamente, é aposto uma barra com travessão, seguida da palavra Itália, para atualizar o entendimento. Assim aparecendo: Sicília/Itália, o onde era e, o onde é esse local hoje.
O Monsenhor Salvatore Guastella, o biógrafo do Beato Santo Antônio de Categeró, afirmou que foram os padres jesuítas italianos, da Sicília, que o trouxeram, quando vieram para o Brasil. O processo de beatificação iniciou e foi concluso, logo após a sua morte Foi um processo rápido, de 14 de março à 05 de maior de 1550, na diocese da cidade de Noto. O Jesuíta Nicolau Faranda S. J. analisou e despachou sobre esse processo, provavelmente, tendo o passado, suas informações ou cópia delas, aos irmãos jesuítas sicilianos, que se preparavam para vir ao Brasil.
A data comprovada da posse do processo, pelo S. J. Faranda ocorre em 1595, talvez a única posse estranha ao trâmite do processo de beatificação. O jesuíta Nicolau Faranda nasceu em Messina em 1539; Ingressou na S.J. em 1557; foi ordenado S.J. em 1587; tendo vivido entre Siracusa, Catânia e Palermo, onde morreu em 1612. Assim, a data comprovada da posse, parece mais a de uma devolução da documentação que havia sido obtida. Assim, pode ter a data da posse inicial, bem antes de 158o ou mesmo, 1570. Essa é uma informação crucial para que Faranda seja incluído no circuito de chegada do beato ao Brasil. Faranda já era irmão ou noviço na casa jesuítica de Palermo, desde de 1557. Então, foi contemporâneo de São Benedito, em Palermo, tanto quanto, da fama milagreira e de massas devocionais, ao Beato Santo Antônio de Categeró em Noto e Ávola, nas décadas de 50 a 90, dos anos quinhentos. Faranda não era alguém de fora da região e despreparado para fazer a busca das informações para um hagiológio.
Era um profissional pronto. Suas informações no arquivo da ordem ressaltam sua preparação, onde consta: “Atende à oração, razoavelmente, e aos negócios por que é procurador e deseja ir para às Índias Ocidentais (Brasil), entre os infiéis. Tem o zelo das Almas.” Mas, tudo se inicia em 1569, quando o vice-rei, Marquês de Pescara, pede um relatório sobre as condições da ilha e envia alguns aristocratas de sua confiança para visitar terras e cidades, e quer que um padre da Companhia de Jesus acompanhe cada um deles “per guida e scorta”. De Siracusa é enviado Nicolau Faranda, que transforma a obediência devida ao vice-rei em ocasião de exercitar a caridade. Cf. Domenico Stanilao Alberti, Dell” historia dela Compagnia di Gesù. Palermo: 1702. P. 231. (N.R. da pág. 99, da Revista Afro-Asia, 30(2009), 51-104 in Antônio Etíope e Benedito, o Mouro: o escravinho santo e o preto eremita, de Giovanna Fiume.
Então, não seria de admirar que solicitação do Vice-rei Diego Enriquez de Guzman, Conde de Albadeliste (1585-1592), como narra a pesquisadora italiana e doutora em historia Giovanne Fiume, complementando, que além de ordenar o reconhecimento e uma sistematização das fontes hagiográficas sicilianas ordena um reconhecimento e uma sistematização das fontes hagiográficas sicilianas, define compilar os tabulários sacros, a fim de dotar a ilha de um patrimônio sagrado, tudo isso é feito pelo vice-rei, por sugestão do jesuíta Nicola Faranda.
Faranda era um religioso completo pois tivera uma longa preparação intelectual em sua ordem. Por 30 anos (1557-1587) foi o tempo para receber os votos. E os fatos que envolvem a pesquisa de hagiológios deve ser quando já era padre ou pouco tempo antes. Vejamos:
- Em 1569 ele demonstrou conhecimento da região, povo e religiosidade, no encargo que recebeu do vice-reinado, pressupondo que seu conhecimento de hagiológios e, prováveis dados já eram existentes, de trabalhos recorrentes em suas missões nas diversas cidades sicilianas;
- Que seu preparo era global ao catolicismo, pois sendo um jesuíta, acompanhava o desenvolvimento de irmãos terceiros franciscanos, a maioria negros e escravos, que pesquisou;
- Em 1585 já mostrava estar preparado para os encargos sobre toda a religiosidade católica da ilha, como sua proposta expõe e é aceita pelo Vice-rei;
- É da vivência jesuítica a socialização dos trabalhos, por isto garantidamente ele é a fonte para que os seus irmãos jesuítas da Sicília, saibam quem são negros, com beatitudes suficientes ao uso devocional junto aos infiéis, como bem ressalta sua “fé de ofício” passada pelo arquivo histórico da Companhia Jesuítica de Roma;
- O seu desejo expresso, nos dados da mesma fé de ofício, com o desejo de vir para o Brasil. Isso o coloca como alguém que sabe da importância de seus dados pesquisados sobre escravos negros em beatificação, talvez esteja até cumprindo algum desejo institucional ou de grupo de irmãos de assunto importante ao desenvolvimento da fé. E terem os jesuítas o referencial real de um “negro e escravo, santo” E, a sinalização que buscavam, como ele, outros jesuítas que viriam ao Brasil. Assim, está caracterizado ser o Pe. Faranda a ferramenta da ordem, competente e apta a passar os dados, de quase uma dezena de “negros, católicos, escravos ou ex escravos, com falecimento em bem aventurança”. quanto antes possível, estaria auxiliando os interesses de sua Ordem e do trabalho dos irmãos que viriam para o Brasil.
- Outros aspectos devem ser discutidos e, devidamente, aprofundados. Um deles é porque a busca de um negro escravo em bem aventurança, para o Novo Mundo, sua necessidade e sua remessa, não sofre o competente registro. Por que este conceito não foi expresso documentalmente.
- Diversos aspectos: 1º – É por volta deste período de 1570 até antes de iniciar o século, seguinte de 1600, que a ordem jesuítica está as voltas com a formação do seu Panteão canônico; 2º – Um beato, santo ou mesmo, venerável “negro e escravo” seria bastante conveniente, na evangelização dos ímpios; 3º – Mas, vai para outra discussão, não só ter referencial concretos avalizados pelos jesuítas, mas, como apresentá-lo; 4º – Teríamos então, o motivo pelo qual um jesuíta italiano atua no inventário de negros terceiros franciscanos, mártires ou em bem aventurança?
Duas questões são encontradas aqui: a primeira é a data de 1585 (marque-se para posteior), que dá início a intensão do Vice-rei, bem como a escolha em Daça e Faranda, um franciscano e um jesuíta, ambos que já desenvolviam esse tipo de acompanhamento do campo social religioso, no interesse de suas ordens, no vice-reino. E, em segundo, em uma corporação hierarquizada, militar, religiosa ou de outra espécie, sempre que existir espaço para que seus integrantes, desenvolvam habilidades pessoais em prol da instituição, haverá apoio, auxílio e até, reconhecimento. O franciscano Antônio Daça e o jesuíta, Nicolau Faranda, ambos devem ser tributados, nessa tipo de experiência universal da humanidade. “Quem sabe e faz”, pode até não ser reconhecido, institucionalmente, mas, nunca ignorado se houver demanda daquela habilidade, conhecimento ou trabalho que ele domina, com solicitação formal da linha hierarquizada a que pertence..
Em 1595 é a data obteve, por algum tempo teve posse, copiou e faz a devolução.
Esse ato diocesano da beatificação de Categeró e três após a data de uma irmandade ao beato criada em São Paulo. Ou seja, o próprio Pe. SJ Faranda, que teria tido interesse em vir para o Brasil (Índias Ocidentais), não o fazendo por questões de saúde, tendo falecido (1612). Mas, foi atavés dele, que os dados da vida do Beato, chegaram ao Frei Antônio Daça, franciscano espanhol que elaborou hagiológio, onde o Beato Santo Antônio de Categeró, consta no ano de 1661, na cidade de Valodollid, na Espanha.
Da Itália vieram para o Brasil seis padres jesuítas. São eles: Scipion em 1572, José Morinelo e Leonardo Armínio em 1575 e Ascânio Bonogusta, Agostinho Lifarelo e Marçal Beliarte, em 1587.
Uma Carta Jesuítica de 1572, tratando da alteração normativa de jesuítas residirem nas aldeias com os índios, no Brasil, foi mudado para que os padres viessem uma vez por mês, para restaurar forças do espírito e da religião. Refere a necessidade de um templo, para os cativos, em lugar que fosse mais cômodo, para aí serem doutrinados. “Parece”, é comentarista da carta, Pe. Antônio Henriques Leal, que aí se originaram as igrejas e confrarias de Nossa Senhora do Rosário, que no Brasil, são compostas de gente de cor.
Uma data importante, que é consensual entre os pesquisadores da história paulistana, está em que no ano de 1588, a arquidiocese do Rio de Janeiro, com ação administrativa sobre São Paulo, definiu a quebra do monopólio da Ordem Jesuítica, sobre sua ação catequista e espiritual, que ocorria desde a fundação da cidade em 1554. Parece que inda durou mais uns quatro ou cinco anos, mas é a partir daí que se acentua inconformidades com parte da elite paulistana, em razão da postura pró liberdade plena dos índios e, até, escravatura. Assim, em 1588 parece que se acelera o processo que vai redundar, em pouco mais de meio século, na expulsão dos jesuítas. E dos santos que compõe os seis altares da igreja do colégio vamos encontrar o desdobramento do trabalho religioso da ordem jesuítica em todo o território paulista.
A pesquisadora Maria Cristina Caponero, em sua Tese de doutoramento, indica que a “Irmandade do milagroso Santo Antônio de Categeró”, existiu em São Paulo em 1592, como ano da formalização, tendo se iniciado anteriormente. Neste mesmo trabalho ela relaciona, anterior à irmandade de Categeró, acima citada, a existência de outras três irmandades. São elas: 1ª – a Santa Casa de Misericórdia/SP (1560 – na Igreja do Colégio), 2ª – a Irmandade de São Miguel e Almas (1565 – na Catedral) e a 3ª de NªSª do Rosário dos Homens Pretos (1590). A quarta irmandade, mas a primeira de um santo, foi a do então, ainda nem beato, o Venerável Antônio de Categeró (1592).
Estamos repassando todas as fonte citadas pela professora Maria Cristina Caponero. Suas planilhas (anexas), sobre as Irmandades de São Paulo, são sintetizadoras, mas perfeitamente, guarnecidas pelas fontes que usou. Por isso, estes marcos das primeiras irmandades, se tornam um referencial diferente, do até aqui usado nas pesquisas acadêmicas.
Por outro lado, fixando em termos de Irmandades de Nossa Senhora do Rosário e do Beato Antônio de Categeró, algumas considerações já podem ser formadas. 1 – As capelas jesuíticas trabalhavam santos do altar jesuíta da Igreja do Colégio (também, então capela). 2 -Algumas permaneceram capelas para sempre, outras desapareceram e até, uma foi destruída e incendiada, não por índios. E é nessa, em Pinheiros que existia uma irmandade de Nossa Senhora do Rosário, dessa mesma época, e, provavelmente, também Categeró. 3 – Vamos encontrar, diversas Irmandades de Nossa Senhora do Rosário, pelo Brasil, que abrigavam a Irmandade de Santo Antônio de Categeró. 4 – Movimentações de criação e nomenclaturas essas todas posteriores a estas datas consideradas por São Paulo. 5 – A primeira Irmandade de Categeró abrigada por uma Irmandade de Nossa Senhora do Rosário na Bahia, vai ocorrer quase um século depois (1699). Assim, este texto é descritivo de situações reais que devam ser esclarecidas em suas conexões fatuais à novas produções textuais.
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