“ABENÇA” PADRINHO

Baner Ben x Cat

Conto  postado pelo Portal do Ipiranga, site do bairro de mesmo nome da cidade de São Paulo e, cujo autor só deixou suas iniciais “E.L.”

O conto se ambienta em São Benedito ser confundido com Santo Antônio de Categeró

 “ABENÇA” PADRINHO

 

Não sei se era comum em todas as famílias de antigamente os filhos terem uma madrinha santa ou um padrinho santo. Eu tenho um padrinho santo, é São Benedito. E todas as vezes que encontrava o santo, seja em que igreja, praça ou local quer for, minha mãe ordenava.

-Menino – corre vai pedir bênção ao padrinho.

E lá ia pedir benção ao santo

– “Abença” padrinho!

Havia duas igrejas que minha mãe, embora declaradamente não católica, me levava de vez em quanto, querendo eu, ir ou não, porque nesse tempo criança não tinha querer. A primeira era a Igreja de São Judas Tadeu, no Jabaquara, na época, ainda uma única igreja, pequena, mas com um grande atrativo para a minha curiosidade infantil, a sala dos milagres, um verdadeiro museu de bengalas, muletas, fotografias e diversas peças de cera na forma de partes do corpo humano, cabeças, braços mãos, pés e etc..

Eu até me conformava com o passeio porque minha mãe dizia que meu nascimento foi num dia 28, mesma data em que se comemora o dia de S.Judas embora ele em outubro e eu agosto, mas essa diferença para mim não tinha importância.

A segunda igreja era a Capela da Santa Cruz dos Enforcados ou popularmente e carinhosamente chamada de “Igreja das Almas”.

Nesta igreja sim eu achava bom de ir. Nela o meu padrinho era enorme, muito bem representado uma estatua tão grande no meu ponto de vista de baixinho, que mais parecia à imagem do Cristo Redentor do Rio de Janeiro de tão grande.

Mas, o tempo passou, chegou à adolescência, a vida adulta, outros compromissos, outra vida vivida muita longe, por assim dizer. Mas nunca me esqueci das minhas visitas ao meu padrinho na Igreja das Almas, e me vinha uma saudade grande, ainda mais, depois de conhecer a história da Igreja, o martírio do Cabo Francisco José da Chagas, o “Chaguinhas”, a razão do nome Praça da Liberdade e então eu prometia a mim mesmo.

-Assim que eu tiver um tempo, vou visitar e pedir “abença” ao meu padrinho lá na igreja das almas.

E na vida, nada como um dia após o outro, a oportunidade de cumprir meu compromisso com o Santo, com meu padrinho e mais ainda, com a minha infância, chegou.

E numa manhã apanho um ônibus, o trem do metro, algumas estações e lá chego eu na praça da liberdade.

E confesso, que emocionado vou a passo acelerado em direção a igreja, paro uns segundos a sua porta, respiro fundo, entro e logo na entrada onde o povo acende as velas, vejo meu padrinho, agora bem menor, mais ainda de majestosa figura, espero disfarçadamente alguns visitantes saírem de perto dele, mereço um reencontro em particular e assim…

Opa!! Que placa é esta! Não indica São Benedito meu Padrinho!?

E não era mesmo o meu padrinho. Descobri naquele instante, que de menino o tempo todo pedi “abença”, a Santo Antonio do Categiró e não a São Benedito que é bem menor e fica num outro altar dentro da igreja.

Naquele instante, me senti tremendamente desconcertado e do fundo do meu coração, pedi perdão ao meu santo padrinho e amigo.

E no meu embaraço parecia que ouvia um som mágico que me dizia.

– Não se aborreça meu afilhado e amigo, o Antonio do Categiró me entregou direitinho todas as suas “Abença “Padrinho.

Autror: E.L.

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