O beato Antônio de Categeró e o Tates-Corongos no Brasil Imperial

Prof. Guido Veroi – Roma. Pág. 32 ver Observações.
Categeró falado de uma época em que se formou uma tríade, com a composição de escravos Cabinda-Angola e, escravos da cultura islâmica e escravos da cultura cristã (estes com Categeró), juntas produziram uma fusão que engendra o Tates-Corongos. Na realidade foi uma tentativa de insurreição, também, chamada de “maçonaria negra dos escravos”, em Vassouras/RJ, no ano de 1847, promovida pelos escravos transportadores de café. Nossa informação está embasada no trabalho do Professor Doutor em História, Rogério de Oliveira Ribas, de sua Tese, para a Universidade Federal Fluminense – UFF (Brasil)/Universidade de Lisboa, através do CNPq, do anos de 2008, intitulado “Islão africano na diáspora: Tates-Corongos, insurreição e resistência negra no Brasil imperial”
O século dos oitocentos, no Brasil, está extensamente marcado pelas revoltas escravas. Iniciando pela Bahia, talvez, as mais marcantes; Entre elas, a Revolta dos Malês (1835); o quilombo do Preto Cosme , no Maranhão; o quilombo Manoel Congo, em Pati do Alferes (1838). Mas, principalmente, as revoltas de escravos na Bahia faz a dispersão, por fuga ou punição na venda de revoltosos, de escravos bons artesãos que criam uma concentração, em Vassouras, como provavelmente outras localidades, no Rio de Janeiro e arredores.

Prof. Guido Veroi – Roma. Pág. 102 ver Observações.
No meio negro carioca, onde a colônia baiana era uma elite a partir de suas organizações religiosas e festeiras, é de grande importância a presença de negros malês ou muçulmanos e haussás, africanos que migrariam para o Rio de Janeiro fugindo das perseguições que passam a sofrer depois de liderarem as insurreições baianas na primeira metade do século XIX. – MOURA, Roberto – 1983 Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro: MEC I Funarte, página 86. (nota bibliografia do do trabalho do autor)
Um rápido perfil da questão econômica, melhor enfoca as relações de produção no processo, preparo e transporte do café, em grão, produzido nessa região. Essa atividade era maior, mesmo, que produção e colheita. Era a maior atividade regional. Existia um grande número de funções especializadas e exigia a maior parcela da mão de obra escrava. Já de algum tempo, havia uma normativa imperial, orientando à destinação de terras, nas propriedades, com distribuição de lotes às famílias dos escravos. Tanto que vamos encontrar análises bem clássicas em termos atuais marxistas, de que indiretamente, lá, nessas relações de trabalho, já se travava ou acontecia: “Uma brecha camponesa no sistema escravistas” ou de um “protocampesinato do escravismo brasileiro”. Só que em Vassouras, por duas variáveis distintas, que em outros locais, não surtiu o mesmo efeito, ou por não ter acontecido em igual proporção de escravos, com desenvolvimento cognitivo e de transmissão, do que eles mesmo denominavam de “Tates-Corongo”, que cria um fato novo.

Prof. Guido Veroi – Roma. Pág. 162 ver Observações.
Alguns aspectos, para melhor compreensão, desse fenômeno ficarão prejudicados por ausência ou, falta de acesso, às fontes, que foram citadas pelo autor, professor Rogério. Na escravatura, se conseguia consolidar uma irmandade de convivência entre condutas religiosas diferentes como, entre os muçulmanos e não muçulmanos. O elo, a definir e viabilizar essa convivência social, é tradição religiosa africana comum aos dois grupos. A existência na raiz muçulmana de alguns rituais, parecidos com o praticado nos cultos do africanismo, ajustados com o sincretismo que os escravos faziam no catolicismo, cria uma amálgama de possível convivência. Assim, nesse contexto, o beato Antônio de Categeró (ou Noto, no caso em concreto), que por sua história permeia a possiblidade do islã, entender o catolicismo, era o símbolo, de fé, do grupo cristão católico / muçulmano de raiz / africano de rituais tribais, que transformaram essa religiosidade numa ação participante da proposta de insurreição.

Prof. Guido Veroi – Roma. Pág. 30 ver Observações.
Havia um interessante aspecto operacional da insurgência, que se operada seria trabalho guerrilheiro moderno. Tinha a compartimentação de segurança e as definições de função, ao estilo mais moderno de hoje. E, nessa estrutura, não fica claro, como se faz o destaque de que havia uma devoção comum, para todos. Abrangendo as crenças de raiz africana dos muçulmanos e de católicos escravos. Também, daqueles que aceitaram a fé católica, quer no próprio Brasil, quanto aos que vieram de entrepostos escravagistas portugueses ultramarinos. No trabalho há uma citação da Ilha de São Tomé e a própria origem angolana (em Cabinda), é outro local citado por pesquisador holandês com devoção à Categeró. Assim, Ilha de São Tomè e Angola, textuais deste trabalho do professor Rogério, são locais nos quais, já existem registros sobre devoção ao beato Antônio de Categeró, em nossas pesquisas.
A confirmação é importante, mas é ,sumamente, necessário aprofundar a expressão de que havia um tipo de culto místico, em Tates-Corongos, considerando uma mescla cultural entre a prática de orixás no africanismo, com os primórdios do sincretismo religioso católico e de Alufás fetichistas do islamismo. Não está expresso assim pelo professor Rogério, mas assim a entendemos, do que foi proposto pelo pesquisador. Ele está iniciando o aprofundamento dessa pesquisa sobre questões divergentes, que por mais estranho que pareça com uma convivência religiosa harmônica.

Falecido professor Doutor em História Rogério, da UFF
Obs.: Recomendamos assistir a palestra do professor Rogério e também acompanhar, pela leitura do texto em PDF anexo, onde consta a primeira parte de sua fala nesse fórum do vídeo abaixo.
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Ao final desta postagem e ao procurar outros trabalhos do professor Rogério de Oliveira Ribas, constatei seu falecimento precoce, em janeiro de 2012. Ele era mineiro de Belo Horizonte. Deixou no prelo o livro “Filhos de Mafoma: mouriscos, cripoislamismo e Inquisição no Portugal quinhentista”, pela editora Alameda, de São Paulo, que vamos consultar sobre Tates-Corongos. No entanto, não encontramos na Internet, outros “papers” do autor, sobre o assunto.
Uma curiosidade, na estrutura do Tates-Corongo é a forma de grupos com cinco escravos, sou um liderança. E só essa liderança ou chefe se reporta a só um superior e assim por diante, fazendo desdobramentos. A estrutura Superior composta dos Tates-Corongo – o grande chefe e de seus cinco diretos, que totalizam seis integrantes. Desdobrando na segunda linha de insurgentes, teríamos 31; na terceira linha 731; e na possibilidade de uma quarta linha seriam 3.856 escravos insurgentes. Um sistema de pirâmide há 170 anos atrás, estava se estruturando e a figura do beato estava entre eles, parecendo ser a liderança espiritual do movimento.
Anexo 1 – 1. PDF com parte do texto da palestra do prof Rogério;
Anexo 2 – 2. Tates Corongo – Sobre o autor;
Anexo 3 – 3. Tates Corongo – Sobre o autor.
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