A diáspora da Irmandade de Nª Sª do Rosários dos Homens Pretos de Floripa
A Irmandade de Nª Sª do Rosário X a Ordem Terceira Franciscana
INSR X OTF
Florianópolis, Santa Catarina:
Irmandade e Igreja de Nª Sª do Rosário
Negros excluem pardos e crioulos da Irmandade…
Criadas novas irmandades com identidade racial, na ilha…
Vai ser, nessa mesma época, que tornam São Benedito padroeiro
junto a Nossa Senhora do Rosário, “dos Homens pretos”. Mas, não assim, expresso…
…e de como a Ordem Terceira Franciscana, aparece, dominando a cena histórica da primazia
Este texto foi desenvolvido como um recorte a contextualizar as questões das pesquisas sobre a Irmandade, capela e igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (INSR), de Florianópolis, por uma competição que se estabeleceu e, ainda mantém seus indícios sutis e entrelinhas da história, com a Ordem Terceira Franciscana (OTF).
Garantidamente, a igreja do Rosário, de Florianópolis, no Estado de Santa Catarina é mais antiga que a igreja de São Francisco de Assis. Ou seja, após a Catedral, segue-se a Irmandade do Rosário e, depois, a terceira nas precedências, é a igreja de São Francisco, dos Terceiros Franciscanos. A irmandade de Nª Sª do Rosário de Florianópolis, tem data de sua organização em 1726. (Segundo diversos pesquisadores como Claudia Mortari Malavota, Karla Leandro Rascke e até Fernando Henrique Cardoso, estes últimos, com uma tabela populacional de irmãos que vai de 1728/1889) Não é a fundação oficial, mas a fundação fatual; da reunião e da volição dos irmãos. Assim, sua destinação principal estava para a funcionalidade religiosa, mas talvez, prioritariamente, de assistência (saúde e enterros), lazer e, até na alforria aos homens de cor da ilha. Reunidos vão erigir sua capela e transformá-la em igreja.
A fundação e ou construção, ou simplesmente, a primeira data de registro existencial da Capela é 1768. Tudo está registrado e a Igreja foi edificada no local da antiga capela. Assim, a Irmandade viveu na Matriz de 1726 até 1768, quando mudou-se para sua Capela e, já em 1787, começava a construção de sua igreja, que vai ser inaugurada, somente, em 1830.
Segundo o texto de Henrique Espada Lima, Dr. em História pela Unicamp 1999, fólio 4/17 de PDF, que foi apresentado no 7º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, em Curitiba/2015, apresenta: “Se a criação da Ordem Terceira havia respondido ao ímpeto (o destaque é nosso) da pequena elite local, em se organizar, e definir suas próprias marcas de distinção, a irmandade dos pretos, também, pode ser entendida como resposta a um ímpeto de representação social, associação estamental e ocupação de uma posição, mesmo que subordinada, dentro da hierarquia local.” (A afirmação está equivocada e vamos questionar)
Como mostramos, sobre a Irmandade de Nª Sª do Rosário (INSR), mostraremos sobre a Ordem Terceira Franciscana (OTF), com as datas de criação da entidade e de sua igreja, em suas respectivas etapas. Então, cotejaremos as datas de criação, etapas e de instalação de ambas entidades e igrejas, para demonstrar o equívoco na afirmação do parágrafo anterior, no paper do professor Henrique Espada Lima.
A Ordem Terceira de São Francisco (OTF), de Florianópolis, criada a pedido na própria Câmara Municipal e instalada na Igreja Matriz do Desterro em 1745. Ocupou por 70 anos uma capela com sacristia privada anexa à Igreja Matriz. Recebeu da prefeitura a doação do terreno, em 1754. E a construção da igreja começou em 1802, sendo concluída e inaugurada em 1815. Verifica-se aí, a primeira grande diferença, entre ela, INSR e a OTF. A primeira – INSR, realizou um empreendimento de escravos que poupavam e esmolavam pela edificação da Irmandade e de sua capela e igreja. E a segunda, a OTF, criada pelo ou com o poder público e com doação do terreno e, auxílios mais valorados à sua construção. A única igualdade entre as duas estava na convivência, que tiveram na igreja matriz de Nª Sª do Desterro, de 1726 até 1768. Convivência enquanto, coexistência da subordinação, nos tratamentos típicos nas relações sociais, possível ou aceitável, entre os senhores e homens livres com suas famílias, com os escravos e forros com suas famílias. Era Desterro uma sociedade escravocrata e foram mais de 42 anos, em torno de meio século, dessa convivência comum, no ambiente religioso, da igreja Matriz de Nossa Senhora do Desterro. Muito há de se especular e discutir, até mesmo, da pouca documentação, sobre isso. Eram os Irmãos do Rosário, com um com espaço, em altar lateral, e os Franciscanos Terceiros, com um altar exclusivo.
Estas informações e as próximas servem para os sociólogos e antropólogos se debruçarem a discutir, perscrutar e entender as relações institucionais e pessoais, nas festividades religiosas comuns, o que ocorria na Matriz, em que as irmandades participavam juntas e, nas festividades próprias de cada instituição. Ou seja, mais de quase meio século de história necessária, que ainda está alijado, mais do que pela falta de fontes, pela opção de trabalhar-se isoladamente, cada uma das confrarias (INSR e OTF).
Assim, no quadro abaixo, apresentamos o cotejamento das datas:
Em uma primeira análise vamos encontrar a primazia organizativa dos escravos, que em seus primeiros momentos na ilha, buscaram ou tiveram alguma assessoria religiosa que os intuísse na criação de uma irmandade. Tendo sido então, em 1726, é criada a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Dezenove anos após, em 1754, na Câmara Municipal era criada, pela elite, a Ordem Terceira Franciscana (OTF). Mas, dali nove anos, em 1754, a OTF já ganhava o terreno para a construção de sua igreja. Quatorze anos depois, em 1780, os escravos inauguram sua Capela. A diferença social era abismal, mesmo no ambiente religioso deveriam existir constrangimentos mútuos. Mas é certo e, não precisa estar, objetivamente, registrado é que o crescimento da iniciativa dos escravos, determinou a movimentação da elite. E, não o contrário como muitos historiadores enfatizam. Outra questão, que suscita a perda história da primazia é o sumiço de três décadas de documentação (Atas) da Irmandade.
Elaboradas as primeiras avaliações das jogadas desse tabuleiro de xadrez, decorre um tempo ainda, maior, em que os atores das disputas, se comportavam a distância. Os irmãos do Rosário em sua Capela, já fora da Matriz e os Irmãos da OTF, ainda no altar exclusivo da Catedral. Algo não muito cômodo, no momento dessa disputa. Bem, em 1802 é iniciada a construção da igreja São Francisco da OTF e doze anos após, em 1815, sua inauguração. Em 1830, a Irmandade de Nª Sª do Rosário dos Homens Pretos, inaugura sua igreja, onde era a Capela. E em 1842, estranhamente, adiciona ao patronato de Nª Sª do Rosário na Irmandade, um co-patrono, que é o negro franciscano, da Primeira Ordem, São Benedito.
Algumas inferências podem ser tiradas das datas e definições. A priori, do que deva tratar da convivência comum das duas confrarias (INSR e OTF) e de como as datas podem sugerir as motivações e os passos que elas seguiram. Três recortes ficam propostos, para um aprofundamento dos profissionais da área, que envolvem questão racial, mais explicitamente. A qual deverá ser discutida a partir da primazia dos escravos assumirem um espaço na Catedral e, se tornarem como uma incubadora de irmandades voltadas as questões raciais da negritude, depois em sua capela.
A primeira delas, sobre o texto de Henrique Espada Lima, Dr. em História pela Unicamp 1999, fólio 8/17 de PDF, que foi apresentado no 7º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, em Curitiba/2015, que segue. “É o caso desse José Rodrigues, açoriano recém-chegado e sapateiro no Desterro, cuja história é contada brevemente por Osvaldo Rodrigues Cabral: “Ele havia solicitado o ingresso na Ordem Terceira de São Francisco no ano de 1756, mas seu pedido foi recusado pela mesa da Irmandade, com a alegação de que sua mãe era “mulata”. Entre o recurso do sapateiro e as diligências dos “irmãos” da Ordem, descobre-se que se de fato seu pai era “branco”, sua mãe tinha sangue africano. Mais do que isso, sua família era conhecida na Ilha do Fayal, de onde era originário, como “cafre”, pela cor que tinha. A história não acaba ali: tendo sido Irmão Professo da Ordem Terceira na ilha açoriana, Rodrigues consegue fazer vir cópia de sua patente, com a qual é finalmente aceito na Irmandade, dois anos depois.”
A segunda é sobre o destaque da imagem do Beato Antônio de Categeró. Ele é um andores da Procissão de Cinzas, dentre uma dúzia de outros santos terceiros, a maioria reis e rainhas, de maior destaque em todas as OTFs daquela época. Por que ele (Categeró – um franciscano negro da Ordem Terceira), recebe um retábulo com destaque especial, ao centro da parede lateral da nave principal da igreja de São Francisco. Seria algum atratrivo ao escravos e seus descendentes que optassem por este santo, em detrimento, ou em paralelo ao seu trabalho devocional no Rosário. Deixa transparecer uma disputa de clientela pelos terceiros franciscanos sobre a Irmandade do Rosário.
A terceira é sobre a escolha de São Benedito como um segundo patrono para a Irmandade de Nª Sª do Rosário. Alie-se a esse fato, a diáspora, mesmo que por desentendimentos, na partilha do poder de confrades, no entanto transparecendo questões raciais internas. Tudo isso ainda, parece, assim mesmo positivo, com a Irmandade do Rosário funcionando como incubadora das irmandades na diáspora de negritude. Destaque-se que a Rainha das Festividades de Nossa Senhora nos anos de 1823 e 1825, não foi uma escrava, como era a tradição. “Foi uma senhora” como consta da Ata. Isso vai gerar o desconforto e, talvez, ser parte de algo mais amplo, da diáspora, que reclamava a permanência só de pretos na Irmandade. Em que pese terem tido, também associados não negros e até brancos como apoiadores, bem ao seu início. E, em resposta aos franciscanos, os Irmãos do Rosário fizeram a opção por São Benedito, também, como padroeiro. Provavelmente, alguns irmãos do Rosário, que conheciam o Beato Antônio de Categeró, tenham sem intensão difundido, e sem intensão, suscitado curiosidade em outros irmãos. Haja vista sua grande imagem prestes a desfilar na Procissão de Cinzas. Isso, afora o grande altar, como um retábulo, ao centro da parede lateral, bem ao centro da nave da igreja. Uma estética talvez – exagerada, lembrando muito. pelo tamanho e posicionamento, reedição da opressão estético/midiática, da idade média, na igreja de São Francisco. Lembrem que, parecido acontecera, em Salvador/BA, por volta de 1699, quando a imagem do Beato Antônio de Categeró, um santo de vestir, era um espetáculo a parte para os escravos e outras decorrências da negritude, quando de seu emprego que não deixou rastros, mas resultados.
A pesquisa continua….
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