A igreja de “Nª Sª do Rosário”, em Florianópolis. Mas, “dos Homens Pretos”
A matriarca das Irmandades de Santa Catarina…
As igrejas dedicadas à Nossa Senhora do Rosário erigidas, por irmandades de escravos negros brasileiros, normalmente, recebiam a denominação de “Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos”. Pouquíssimas omitiam essa condição, até porque, era determinante, na denominação da igreja a ser construída. Porquê então, essa denominação, assim, não ter ocorrido em Florianópolis ? Isso é uma incógnita histórica.
Os Jesuítas foram primeira ordem a palmilhar o território brasileiro e, deram início ao processo de criação das igrejas do Rosário, principalmente, do Rosário dos Homens Pretos, por tão somente, trabalharem a organização dos escravos em irmandades.
Em 1572, a Ordem passou orientação para que fossem instituídos templos, aos cativos (podem ser negros ou índios), sendo bem claro “…em lugar que fosse mais cômodo, para aí serem doutrinados em ocasião azada.”. Segundo o cronista jesuíta, seria daí, que se originaram as igrejas e confrarias de Nossa Senhora do Rosário, quando definiram, o retorno periódico dos jesuítas, das aldeias onde, antes ficavam morando.
Um texto padrão – corrente na Internet, resume a estada jesuíta no Estado de Santa Catarina. ” A presença dos jesuítas na Ilha de Santa Catarina data de 1553, quando se encontra o registro da visita do Padre Leonardo Nunes, S.J. No entanto, somente em 1751, a Companhia de Jesus estabeleceu o primeiro colégio na Ilha. Essa presença, com algumas interrupções, alheias a vontade dos jesuítas, estende-se até hoje, tendo como obras principais o Colégio Catarinense e a Casa de Retiros Vila Fátima.” Além, desse texto, é bom lembrar que em 1759, eles foram expulsos do Brasil e, por consequência, os que estavam no Colégio criado em Santa Catarina e suas missões, que houvesse, principalmente, o colégio que haviam criado, poucos anos antes.
A irmandade. de Nª Sª do Rosário. de Florianópolis, data sua organização de 1726 (não é a fundação oficial, mas é a fundação fatual). Sua destinação principal era aos homens de cor que erigiram sua igreja. A pesquisadora Claudia Mortari Malavota, quando relata as 11 históricas irmandades da Capital catarinense, apresenta as destinadas, aos não brancos, por último, quando a data fundacional de fatos, da Irmandade do Rosário é a de maior antiguidade.
Vejamos no texto, dessa autora, a última frase do parágrafo que trata do caso: “As irmandades de africanos, crioulos e pardos eram, respectivamente, a de Nossa Senhora do Rosário, existente desde 1726, mas fundada oficialmente em 1750, tendo sua capela inaugurada em 1780; a Irmandade de Nossa Senhora do Parto, que teve a sua própria capela em 1861; e a Irmandade de Nossa Senhora da Conceição, fundada em 1856 por um grupo de pardos livres.”
Poucos, ou talvez nenhum, seria o exemplo de irmandade, onde os escravos não tenham recebido orientação religiosa, para a composição da irmandade e construção da igreja. E eram os jesuítas, a ordem que mais orientou irmandades, que construíram igrejas, para os cativos, negros ou índios. Os jesuítas davam essa assistência e ainda, faziam o acompanhamento, sem nenhum custo ou, retorno econômico direto.
Para melhor entendermos, a postura tradicional dessa época, depois de ter sido demonstrada a primazia da Irmandade do Rosário em relação à própria Ordem Terceira Franciscana, devidamente historiografada, vamos avaliar o início do mesmo texto, onde os irmãos do Rosário, última frase de um parágrafo, que relata ao final, todas as irmandades, da ilha, de não brancos. Aqui reproduziremos o início do respectivo parágrafo do trabalho da pesquisadora Claudia Mortari Malavota: Capítulo 4 – A Irmandade do Rosário e seus Irmãos africanos, crioulos e pardos, como segue:
Em Nossa Senhora do Desterro existiram 11 irmandades, que se organizavam também segundo estes preceitos. Havia a da Ordem Terceira de São Francisco, criada a pedido da própria Câmara Municipal e instalada na Igreja Matriz do Desterro em 1745, constituída pelos “homens bons” da Vila, tendo como ministro (título usado pelo provedor) o próprio governador da época, o mestre de campo Pedro de Azambuja Ribeiro. Havia outras irmandades de “homens bons” (grifo da autora, que refoço), como a do Senhor dos Passos, localizada junto da Capela do Menino Deus, fundada em 1765; a do Espírito Santo, de 1773; e a do Santíssimo Sacramento que, embora não se tenha a data exata de sua fundação, sabe-se que já existia em 1774. Do século XIX, a do Glorioso Arcanjo de São Miguel e Almas, criada em 1855, tinha como função enterrar os mortos e sufragar-lhes as almas. Neste mesmo século, foram criadas a Irmandade de Nossa Senhora das Dores e a de São Sebastião, considerado o patrono contra o flagelo da peste.”
Então a irmandade de Nossa Senhora do Rosário “dos Homens Pretos” é a matriarca entidades tipo confraria, irmandade ou Ordem Terceira, ou seja das entidades religiosas, de qualquer espécie, na ilha de Santa Catarina. E mais, destaque-se essa singela descrição, do mesmo texto: “a da Ordem Terceira de São Francisco, criada a pedido da própria Câmara Municipal e instalada na Igreja Matriz do Desterro em 1745, constituída pelos “homens bons” da Vila, tendo como ministro (título usado pelo provedor) o próprio governador da época, o mestre de campo Pedro de Azambuja Ribeiro.”
Talvez, no Rosário não estivessem os homens bons e, muito menos contaria com o apoio da Câmara Municipal e Governador da época. Alguma perspectiva política, mais acurada, deve ser buscada, não nas motivações econômicas, de preparar o espaço necessário à ordem primeira franciscana, mas em também, não perder a primazia histórica e, quem sabe, alguma movimentação social que poderia ser gestada por uma irmandade, de escravos, libertos e outros pobres, que pudesse criar um status social perigoso, com templo próprio.
Entretanto ressalvo, que sem provas, tanto quanto eu, não acredito que uma teoria da bondade e tolerância, dos portugueses para com os negros, quando a mesma autora fala de um compromisso que sumiu ou extraviou-se, anterior a 1807, no qual a Irmandade não era “dos Homens Pretos”. Ou seja era uma Irmandade de portugueses que se transforma em de escravos, pelo menos é o sentido do texto. Pois, acho bem ao contrário, sempre houve exceções nas irmandades, mas a regra geral seria aquela que indicava os negros proprietários da igreja.
Por outro lado, até não duvido que, lá tivesse existido alguma iniciativa dirigida ao Beato Antônio de Categeró, santo oferecido para os irmãos das irmandades, pelos Jesuítas. Santo Antônio de Categeró, já era ofertado, desde 1492 pelos jesuítas, tanto quanto São Benedito, a partir de 1740, pelos franciscanos. Lembrando, que só em 1842, houve a adição da devoção a São Benedito, o que reforça uma possível existência anterior de Categeró. Várias ocasiões são encontradas a citação de ação dos jesuítas na igreja do Rosário. Mas, se não forma os Jesuítas, quem então? E o mais interessante está em que quando da expulsão, em 1759, foi o tempo mais próximo que estiveram da igreja do Rosário e, justamente, quando o documento “Compromisso da Irmandade” desaparece, misteriosamente.
Não quero que as conclusões sejam entendidas como uma teoria de conspiração. O Beato Antônio de Categeró, teve ofertado pelos terceiros, com tanto destaque, em um retábulo de corpo inteiro. Esse espaço especial e importantíssimo, dentre mais de uma dúzia de santos terceiros, que existiam na Procissão de Cinzas, da Igreja São Francisco, poderia ter alguma função, no interesse dominante de questões sociais que desagradavam a sociedade, tanto quanto, ainda hoje, lá no mesmo local? Talvez, por isso… naquele momento, tão grande imagem e, quem sabe seu uso, na procissão de cinzas, que na maioria das vezes, ocorreu com seus públicos juntos, as duas irmandades que habitavam juntas, lado a lado, a Matriz, por altares separados. Essa imagem de Categeró tinha uma função social a cumprir, para algum reequilíbrio, nas questões sociais que afetavam questões devocionais. É… deveras importante, encontrar as notícias e relatórios da OSF (OTF – antiga) para entender a questão desta imagem tão destacada.
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