Os jesuítas trouxeram Tio Antônio de Categeró para o Brasil colonial

3. Categeró Meio corpo P&B

“Tio Antônio,
– o escravo negro –
Terceiro Franciscano,
 um”Venerável” beato,
e santo, desde 13/04/1599”.

Fatos concorrentes à vinda de Categeró para o Brasil

Começamos cotejando os fatos que unem os jesuítas italianos (do Reino da Sicília) e o Tio Antônio de Catalagerona, assim grafado no hagiolágio franciscano, (um escravo negro, do reino da Sicília/Itália), contemporâneo à fundação da Companhia de Jesus. Escravo esse, hoje no Brasil, conhecido como Santo Antônio de Categeró. Os aspectos a serem cotejados comporão as premissas, pelas quais, estabeleceremos as questões norteadoras de nossa busca. Composição essa para uma melhor compreensão de como e quando o Beato chegou ao Brasil e, se possível, quem poderiam ter sido os jesuítas que o trouxeram.

  1. A companhia foi fundada em 1534, na França, mas reconhecida em 1540. Santo Inácio de Loyola, obtém a aprovação da nova ordem, pelo Papa Paulo III, em Roma. Nesta época, o Tio Antônio contava 50 anos, rumava ao auge de seu ministério, em Noto. Provavelmente, 1540 é o ano em que foi libertado por seus amos. Mas ele, se propõe em permanecer, por mais quatro anos, laborando normalmente em suas tarefas. Claro, que mais aliviado, e com a liberdade de ações externas à casa. É o tempo que oferece a seus amos, para ajustarem a questão econômica que sua libertação gerava. E para que conseguissem um bom substituto a ele.
  1. Em 1549 a Companhia aporta no Brasil, com a exclusividade na missão da catequese aos indígenas, chamados ou considerados de “negros”, pelos portugueses. Nesse ano de 1549 ou 50 (dependendo da indicção), o negro Tio Antônio morria em Noto, no Reino da Sicília (Itália), após ter tomado o hábito e ser consagrado Terceiro Franciscano, depois de seis anos de ministério, promovendo Cristo e intercedendo em milagres. Somados aos quatro anos de sua permanência na casa dos amos, mas com atividade pública, totalizam dez anos de profícuo trabalho missionário, deste por três ou quatro anos como eremita, em que comparecia semanalmente na cidade de Noto e à igreja de Santa Maria de Jesus, onde foi enterrado.
  1. De 1549 a 1551, os jesuítas no Brasil Colônia, se espalham organizadamente, de norte a Sul, priorizando como foco: São Vicente (São Paulo); Porto Seguro e Ilhéus, e também, Salvador, todos na Bahia; E locais como Olinda, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Para o ex escravo negro, a diocese da cidade de Noto, providencia imediatamente, o início do processo informativo diocesano da vida e milagres. O processo de beatificação ocorreu entre 22 de abril e 09 de maio do ano de 1550. Estava composto de 90 testemunhas em três tomos.
  1. Em 1554 os jesuítas fundam São Paulo com um grande esforço no processo de conversão dos gentios da terra “Brasilis”.  Gentios esses que eram equiparados pelo pensamento dos colonizadores portugueses, aos negros escravos, que já chegavam aos poucos. A importação de escravos, segundo dados Luiz Aranha Corrêa do Lago, foi de 10 mil, de 1551-1575 e, de mais 40 mil, de 1576-1600 e, ainda de 1601-1651, um total de 385 mil pessoas. Ou seja, No primeiro século chegaram quase meio milhão de negros, nos registros. São Paulo nunca chegou a ter mais que 11% desse total. Em São Paulo há estimativas que dos 1590 aos 1600 existira em torno de 100 fogos, referindo a população portuguesa, ou seja, incluindo a população branca flutuante, umas duas mil pessoas. Uns 1,5 mil índios aldeados e já uns 500 a 1000, entre escravizados e trabalhando em lavouras, sendo a população escravos próximos do primeiro milheiro. E é nesse caldo cultural de poderes, paralelos e difusos, era que os jesuítas, pincipalmente, em São Paulo atuam.

Excerto da página 7, da Nota Preliminar, do livro Cartas do Brasil 1549-1560, do Pe. Manoel da Nóbrega: “Com essa mentalidade, quase intacta ainda, quatro séculos depois, é milagroso como, apenas descoberto o Brasil, religiosos europeus aqui sustentam, até pelo martírio, doutrinas e ações completamente opostas. Foram os jesuítas, contra a Metrópole, lá. Contra os reinóis, aqui. Eles se bateram, do primeiro ao último dia, até serem expulsos, de 1549 a 1777, por esses três ideais que são o fundamento mesmo da nacionalidade, que nos desejaram e ajudaram em fundar. ” Buscavam os jesuítas – Questionar e impedir o aprisionamento do índio, humanizar a relação com o escravo negro e fazer retomar o conceito de moralidade familiar, eliminando os amancebamentos de homens com negras e índias, era a tarefa que distanciava os Jesuítas de parte da elite e governanças locais.

  1. Eles fizeram a expansão social e a integração de tão diferentes povos, no mesmo ambiente, com observâncias as normas sociais impostas pelo reino. Mas, começaram a ser criticados, como obstrutores do desenvolvimento que necessitava da mão de obra escrava, que reunia outras questões, para inviabilizar o trabalho jesuítico. Em 1888, o bispo do Rio de Janeiro, com ação administrativa sobre São Paulo, em visita decidiu pela quebra da exclusividade da Cia, naquela cidade. Levou ainda alguns anos. Determinando a criação da Catedral e que alguns aldeamentos passariam para outros cuidadores. E talvez, aí, os padres da Cia aceleraram no processo, um dos últimos instrumentos que eles criaram para se relacionar com os grupos em suas diversidades.

No ano de 1572 o Pe. Antônio Henriques Leal, na página 309, dos Apontamentos para a história dos jesuítas no Brasil, enfatiza sobre um templo, que fosse lugar mais cômodo, para aí serem doutrinados. Parece referir às cidades que emergiam. Definindo que este templo seria para os “cativos”, expressão que os jesuítas, não usavam em relação aos índios, mas talvez, o usando referindo aos “índios cativos”, por uma questão de direito, mesmo que no pensamento português reinol, isso não fosse um direito. Mas, é aí, que o autor Antônio Henriques esclarece o pensamento jesuítico de 1572, definindo que o aplicado, seria na origem das igrejas e confrarias de Nossa Senhora do Rosário. E em 1590 e 1592, respectivamente, são criadas em São Paulo, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e a Irmandade do milagroso Santo Antônio de Categeró.   E autora, desta informação, a pesquisadora Maria Cristina Caponero, que refere ser a criação, um ato formal que deve ter se iniciado, bem antes, do ano de 1590, data a primeira Irmandade devocional paulista. Anterior foram as irmandades assistencialistas da Santa Casa de Misericórdia (tipo hospital) e a de São Miguel (sepultamento e cemitério). 

  1. Realmente, as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário, em locais que tiveram origem de período jesuítico, ali também, pode ser encontrado o Santo Antônio de Categeró. Este beato franciscano negro tem aí o seu primeiro instrumento de multiplicação. Existem, ainda hoje, muitas imagens no estado de São Paulo e, dentro da própria capital. Mas vamos citar dois, para que melhor se esclareça. Em Itapecerica, cidade de Minas Gerais, que foi um aldeamento jesuítico/paulistano; e em Salvador, na Bahia, com a Irmandade de santo mais antiga daquele Estado, na igreja Matriz de São Pedro, onde vai ocorrer também, uma Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e uma Irmandade de Santo Antônio de Categeró. Estas últimas irmandades um século depois da  que relatamos em São Paulo.
  1. Por outro lado, o biógrafo do Beato Antônio de Categeró, falecido neste século, o Ms. Salvatore Guastella, relatou que o processo de beatificação, já descrito nos itens 2. e 3., acima, em que o monsenhor expressa  a teoria de que foram os jesuítas italianos que trouxeram o Categeró para o Brasil. E surge uma situação delicada de análise. O padre Nicolau Faranda S.J., em 1595, tinha posse de uma cópia devidamente, autorizado do processo ou de um dos três tomos. Esse tomo encontra-se depositado na Biblioteca Municipal de Palermo e, no frontispício do tomo está inscrita essa observação e o nome do Pe. Nicolau Faranda. Ora, em 1595, Categeró ainda não era beato, que vai acontecer em 13 de abril de 1599. Mas, Categeró, por ocasião da retirada da cópia de parte de seu processo da biblioteca de Palermo, há três anos, já a era uma Irmandade em São Paulo. Assim, esse processo deve ter estado, nas mãos do pe. Faranda, no mínimo uns dois anos antes, de 1990, quando criam a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, em São Paulo. Deveriam estar aguardando sessas informações sobre o Beato Santo Antônio de Cateteró, pois se já as tivessem teriam lançado as duas irmandades, mais próximas, e a do beato vai ser em 1992, além do que ele só vai aparecer a primeira vez em um hagiológio, no ano de 1611. De alguma forma suas informações processuais, por alguma forma, chegaram ao Brasil, até 1590.
  1. Nicolau Faranda entrou para a Cia de Jesus, em 1537; e foi ordenado em 1587. Consta de sua documentação, no arquivo jesuítica de Roma, ter visitado a cidade de Noto e, que ele deseja ir para as Índias Ocidentais, (esse era o nome do Brasil), à época. Terminou não vindo e morreu em 1612. No entanto, pode ter feito o levantamento sobre Categeró e levou para Casa do Jesuítas de Palermo, onde estava lotado. Verifica-se que ele teve um longo noviciado. Foram 30 anos, mas quando foi pesquisar Categeró, ou melhor devolver a cópia do processo, já era um padre há oito anos, demonstrando que tinha uma longa vivência inaciana. Ou seja, já tendo desenvolvidos os estudos acadêmicos necessários, na própria corporação jesuítica. Então precisamos avaliar a data que ele pegou a cópia do processo e, quem seriam os jesuítas italianos, principalmente, sicilianos que vieram para o o Brasil entre 1572 e 1585. E destes quem foi noviço do Pe. Faranda ou algum contemporâneo seu, que se encarrego de trazer para o novo mundo, os dados sobre o Beato Santo Antônio de Categeró.
  1. Os inacianos que chegaram ao Brasil estão quase todos relatados, segundo “Apontamentos para a História dos Jesuítas no Brasil (?). São seis, mas não á pacífica a literatura. Acrescentaria os dois encarregados do Grupo, pois sendo uma instituição hierarquizada, dariam conhecimento, aos respectivos chefes, podendo então, algo ser recolhido em textos, também, destes. Com base no livro citado de Antônio Henriques Leal, conforme páginas de 380 à 398, do Annalium societatis Jesu in Lusitaniao, onde correm três nomes, que apesar de constarem em textos, das cartas, não foram arrolados. Vamos arrolar todos a seis seguir: (153-1557) – Padre Leonardo Armínio, italiano; José Morinelo (Não Relacionaodo) NR; Ir. Scipião, italiano, NR; Ascânio Bonajusto, italiano; Agostinho Lifarelo, italiano; Mraçal Beliart, italiano NR.  ????
  1. O cruzamento dos documentos da Companhia e Jesus, em Palermo, sobre os jesuítas, arrolados acima, confrontados nas relações com seu confrade, o Pe. Nicolau Faranda, diretamente, ou por textos da Casa Jesuíta, ode trazer alguma referência ao que trate do processo do Antônio de Catalagerona. Por derradeiro, no intuito de auxiliar, lembramos, que dentre outros nomes, destacamos os constantes do hagiolágio desse Franciscano como: Preto, Negro ou Etíope Categerona, Catalagerona, além de corruptelas de Categeró (Catigiró, Categiró e Catigeró). Esses são dados que podem trazer luzes sobre a forma de entrada, do Beato Santo Antônio de Categeró no Brasil e, ainda, se realmente ele foi direto para São Paulo, como iluminam os dados levantados, até o momento, aqui no Brasil, não se iniciando na Bahia, onde todas as devoções, para depois o ciclo natural das periferias colonial.
  1. Assim, quando ele chegou no Brasil era, somente, um Venerável pela ação dos Jesuítas italianos. Mas.  é antes de 1595, quando obtiveram a cópia do processo e agilizam a autorização de uso da Auréola. Essa é a hipótese mais provável.  Mesmo assim, deve ter ocorrido um  estudo e definições pela Ordem, para seu uso com os gentios nas Índias Ocidentais (Brasil). Talvez, por este caminho consigamos, então a data que houve essa sondagem da Ordem e se foram feitos os competentes registros. O que preocupa na definição desses dados é que os Jesuítas deveriam ter solicitado uma prévia autorização do uso dele para os franciscanos. Talvez, resida aqui, as resistências: de encontrarmos quando e quem trouxe, bem como a origem de congelamento da devoção Beato Antônio de Categeró no Brasil pela  ordem franciscana.

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