A chegada do Beato Antônio de Categeró – Santo de vestir franciscano, na São Pedro, em Salvador
O Beato Antônio de Categeró da Matriz de São Pedro, em Salvador
Uma devoção dos Terceiros franciscanos
junto à Irmandade do Rosário dos Pretos
parceria muito repetida durante o Brasil Colonial
Acima está a imagem do beato Antônio de Categeró existente na igreja Matriz de São Pedro, na cidade de Salvador, na Bahia. Deve ter mais de 317 anos como verificaremos. A referida imagem é um santo de vestir, em tamanho natural, daqueles usados pelos Terceiros franciscanos, para a composição do cortejo de Cinzas ou da Penitência, naquela procissão que saía nas quartas-feiras de cinzas, abrindo o período quaresmal.
Um evento religioso do calendário oficial católico, promovido pela Ordem Terceira Franciscana e composto com andores, só de santos franciscanos, da Ordem Terceira. Eram muitos andores, se computados os de representações bíblicas pertinentes à penitência, sendo que em torno de até 16 de andores dos santos da ordem. Há o indicativo de que o beato Antônio de Categeró ocupava o quarto andor dos santos da ordem. Poucas ordens franciscanas, tanto no Brasil, quanto em Portugal, não o usaram. Em Portugal, no Funchal, na paróquia de Santa Cecília, na Baia de Câmara de Lobos, Arquipélago da Ilha da Madeira, desfila ainda hoje, um Categeró – santo de roca, conforme pode ser visto na foto abaixo e comprovado no link a seguir: http://categero.org.br/?p=6229
Os santos de vestir ou de roca são muito representativos de uso nas procissões de três séculos atrás. Eles estão presentes em diversos locais onde foram fundados os primeiros templos do catolicismo no Brasil. Por si só, isto já está evidenciando que o Categeró, da igreja Matriz de São Pedro, não foi construído para ela, mas, que pertenceu a uma ordem franciscana terceira daquela época. Pela lógica, existem algumas situações que aproximam o assunto, aos pressupostos iniciais, constante do subtítulo:
Uma devoção dos Terceiros franciscanos
junto à Irmandade do Rosário dos Pretos
parceria muito repetida durante o Brasil Colonial
Pertence a mesma época da Irmandade de Categeró, na igreja Matriz de São Pedro (1699), em Salvador, na Bahia, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (1689), citada nas fontes históricas, como criada na mesma igreja, dez anos antes. Essa é a citação, recorrente e uniforme, em todas as fontes acadêmicas que tratem do assunto das irmandades na Bahia.
A igreja Matriz de São Pedro constitui uma paróquia com mais três igrejas, que se criaram de antigas capelas. Pela precedência de datas, de instalação, se desmembraram e se constituíram em igrejas. A primeira dessas foi a igreja de Nossa Senhora do Rosário. Esta igreja foi criada, enquanto capela, dentro do espaço físico da própria igreja São Pedro e, lá permaneceu até 1746. A história oficial da Matriz, não está bem clara em seu site. As informações estão postas para a interpretação. Até 1746 a Capela do Rosário, coabitou com a igreja Matriz de São Pedro, na feitura de seus serviços e ofícios religiosos.
Agora, se era um altar lateral, uma nave ou utilização do altar principal, com missas pré-programadas para serem oficiadas na capela de Nª Sª Rosário, é outra questão. Capela essa, que também, tinha como verdadeira denominação “Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos”. Parece ter perdido o radical étnico, quando foi para o prédio, de sua Capela própria, em 1746. Isso para que a igreja, naquela época, mesmo como capela, não gerasse confusão com outra igreja – a do Pelourinho, com a mesma denominação. Talvez, por isso houve a tentativa de forçar o nome de Nossa Senhora do Rosário de João Pereira, que não pegou.
Em uma situação especial, assim, até poderia passar despercebida, se o fosse, sem que os leigos organizadamente, não tivessem ação administrativa sobre as decisões dessa capela. Pois bem essa capela se originou da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, teve o seu compromisso (estatuto) encaminhado em 1889 e, que se agregou a irmandade e sua capela, dez anos após a Irmandade de Santo Antônio de Categeró. Ora, a Irmandade do Rosário, teve seu estatuto aprovado, obtendo o breve de Confraria, concedido pelo Papa Pio VI, no ano de 1779. Ou, seja já estava com a Capela fora da igreja de São Pedro fazia 35 anos e deveria ter levado todo seu espólio de devoção, no qual o que pertencesse à irmandade parceira “Santo Antônio de Categeró”, também, lhe pertencia.
A exposição feita sobre um aprofundamento da atual igreja do Rosário, permite entender que houve uma relação direta do grupo fundador da Irmandade de Santo Antônio de Categeró com os irmãos de direção da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, que já atuava há dez anos, dentro da igreja de São Pedro com a possiblidade, até de ali ser colocada a imagem de Categeró. Não o seria na igreja de São Pedro, mas na Capela de Nossa Senhora do Rosário. Isso ocorria em todo o Brasil, não só com Categeró, mas onde sempre os irmãos da Senhora do Rosário, apoiaram os irmãos das demais irmandades de santos negros. Tanto, que nesse mesmo período, existiu a Irmandade do Santo Rei Baltazar, na mesma situação de Categeró, dentro da igreja São Pedro. A profª Drª em História Lucilene Reginaldo, em pesquisa relata: “Santo Antônio de Categeró foi igualmente cultuado por uma irmandade de pretos forros e cativos num dos altares da matriz de São Pedro”.
Retomemos a questão de Categeró quando a irmandade foi proibida, pelo arcebispado da Bahia em difundir a devoção com o uso do Menino Jesus no colo do beato Categeró. Naquela ocasião o padre provisor e mestre escola Dom Sebastião dos Vale Pontes recomendou que fossem a Casa dos Terceiros Franciscanos, para olharem a imagem do beato Antônio de Categeró que lá existia para o uso da imagística correta. Com certeza a recomendação do padre Provisor do arcebispado foi cumprida pela mesa diretora da Irmandade de Santo Antônio de Categeró.
Eles foram a Casa dos Terceiros, dentro do convento antigo dos franciscanos da Ordem Primeira. O que se poderia chamar de Capela dos Terceiros era um altar dentro da Casa do Consistório. Este espaço usado como capela estava escurecido, a prejudicar o andamento das missas, em razão da obra do Convento novo da Ordem Primeira. Se ali, estava a imagem de Categeró, é porque estavam todas as imagens dos santos franciscanos da Terceira Ordem, que compunham o cortejo da Procissão de Cinzas. E ressalte-se três aspectos: Só existia essa Ordem Terceira Franciscana em Salvador, por tanto, só esta imagem de Categeró; nas pesquisas encontrei citações de Categeró participando de Procissões de Cinzas em Minas Gerais, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Lisboa e até a Ilha da Madeira, antes citada. Em Salvador os relatos sobre a procissão de Cinzas não fazem referência ao beato Antônio de Categeró no Cortejo; inclusive o livro de história da Ordem (1948), relata que a primeira procissão de Cinzas ocorreu em 1649 e até 1756, eles não obtiveram informações sobres as procissões;
Assim, existia a imagem ou, existiu uma imagem do beato Antônio de Ctegeró, na Casa dos Terceiros, por que não desfilou ou que fim levou? Ela deveria estar com outras imagens que ainda estão preservadas. O que houve com o Categeró dos Terceiros de Salvador/Bahia? Ocorre que a relação entre franciscanos e jesuítas, principalmente, em Salvador, era algo sem possibilidade de conserto. Categeró foi emprestado ou doado ao altar que tinha na igreja de São Pedro, para a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que auxiliava as irmandades dos irmãos negros. E de preferência sem qualquer forma de documentação.
Uma devoção dos Terceiros franciscanos
junto à Irmandade do Rosário dos Pretos
parceria muito repetida durante o Brasil Colonial
fez em Salvador/BA gerar a presença do
Beato Antônio de Categeró
na igreja Matriz de São Pedro
há mais de 317 anos.
Hoje
se não for a mais antiga,
está dentre as mais antigas
imagens católicas da Bahia.
(quem sabe completando em 2017 seus 370 anos)
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