Origem da batina preta em Categeró

origem da batina 1

Cor preta do luto, de negro e escravatura ou, de homenagem aos Jesuítas…

A imaginária brasileira foi bastante criativa ao conceber os atributos físicos do beato Antônio de Categeró. Nasce o negro jovial extravasado no barroco que vem até os nossos dias e já se entremeia com concepções modernas. Contudo, sua concepção se dá com a ausência das informações básicas da realidade ou com a distorção delas. Por isso nosso Categeró tem um distanciamento da realidade fatual e foi dotado de uma vasta diversidade.

Nosso objetivo é entender como se processou essa criação tentando identificar, mesmo que sem qualquer pretensão de validação histórico/científica,  que variáveis nortearam o direcionamento da criação que redunda com as concepções das primeiras imagens.  Vale lembrar que as duas primeiras estátuas não têm documentação de origem e seus administradores não sabem precisar os dados técnicos de sua existência.

Ao início deste trabalho estão generalizadas as questões de um estudo exploratório dos usos e costumes sobre as batinas do beato, Estamos na quinta abordagem tratando especificamente da origem da batina preta em Categeró. Já tratamos da batina cinza, das batinas em padrões floreados e da necessária universalização da batina marrom em sua identidade franciscana.

Ma precisamos ser recorrentes e retomamos o conceito já exposto da origem da estatuária dele no Brasil, que a seguir repetimos: “Duas são as imagens de estátuas, mais antigas do beato Antônio de Categeró, no Brasil. Sobre ambas declaram seus administradores, a inexistência de documentação para comprovar a origem, o artista que as produziu, o mecenas que patrocinou e a data dessa criação. Essas imagens além de devocionais são obras de arte, e como tal, pertencem ao patrimônio artístico nacional. São as imagens das igrejas: Matriz de São Pedro e  de Nª Sª do Rosário dos Pretos, as duas em Salvador, na Bahia. Não se consegue precisar qual das duas é a mais antiga, é estimado em terem mais de 200 anos cada uma delas.“

Nesse contexto, estas duas imagens devem ser analisadas conjuntamente. Provavelmente, nelas reside toda a identidade do Categeró tupiniquim e seus desdobramentos nestes mais de dois séculos de existência das devoções do beato no continente brasileiro. Além dos dados fisionômicos e estruturais dessas duas estátuas é fundamental, também, considerar nesta lucubração,  não a quem passou estas informações aos artistas que a confeccionaram as estátuas.  Mas, prioritariamente, quem  passou aos devotos que as demandaram estas informações.

Vamos fazer um exercício, de investigação teórica, com base em fatos históricos reais, sobre quem por primeiro descreveu Categeró aos escravos. Vamos reunir quatro situações.

1ª – O beato Antônio de Categeró não foi, aparentemente, assumido por nenhuma ordem religiosa da época. Porque?  E essa conseqüência subsiste até nossos dias. É o franciscano, bastante consumido no Brasil, mas não franciscanizado pelos seus irmãos de ordem;

2ª – Em 1553 chegam em Salvador 6 jesuítas para um novo conceito de catequização e são eles que trouxeram e oferecem o Categeró às senzalas. Mas os Jesuítas são expulsos do Brasil em 1765. Mesmo não tendo procurado na história da igreja, mas tendo certeza pela história dos homens, sempre pode  ter existido um revanchismo, comum nas alternâncias políticas. E foi isso que ocorreu com os princípios que os Jesuítas apropriavam em seu método pedagógico de interação cultural;

3ª – As senzalas, através das irmandades, se tornaram economicamente importantes no cenário religioso. As irmandades de negros e pardos ão construtoras e mantenedores de capelas e igrejas. Contratantes de muitos serviços dos religiosos. Estes elementos históricos nos permitem inferir o porque de uma  quase imposição de Categeró, no 5º andor, dnas Procissões de Cinzas. Tanto que ele, em localidades extremamente distantes como Rio de janeiro e Salvador, sem ter uma ordem que o “banque”, ele ers o 5ª andor, sendo isso um destaque muito forte, no evento daquela época. Essas procissões duraram, em algumas localidades,  mais de dois séculos e quando foram desativadas pela igreja foram sucedidas pelo Entrudo e posteriormente ao Carnaval.  E após a supressão dessas procissões que começa ocorrer a estagnação do crescimento devocional a Categeró,  cuja retomada retoma  o viés da cultura sertaneja do eixo Minas-São Paulo.

4ª – O bispado de Salvador em 1699  vetou o uso do menino Jesus nas imagens Categeró, o que não impediu a existência de algumas imagens assim confeccionadas, mas também vetou sua denominação para que a hoje, famosa igreja do Pelourinho, fosse igreja de Santo Antônio de Categeró e ela foi renomeada  de Nª Sª do Rosário dos Pretos.


origem da batina 2

Agora avaliemos as duas imagens lado a lado. A primeira uma alegoria barroca com toda a liberdade conceitual artística e nenhuma com a realidade fatual. A segunda, uma imagem articulada, nem roca e nem santo de vestir, algo intrigante que infere um uso quem sabe com alguma alegoria em procissões da devoção. Mas se a primeira tem sua concepção a partir da cor marrom e floreados dourados típicos do barroco, a segunda está mais para a cor marrom escuro.

E é sobre essa imagem de Categeró que fazemos nossa inferência da cor preta em uso na estatuária de Categeró na Bahia. A distância da porta da igreja até o altar (lá no fundo) da Matriz de São Pedro e com pouco iluminação, de época, vai provocar a percepção de escuro, quase preto a distância. E é esta a concepção dos artesãos baianos sobre Categeró. A maioria de quem o conhece (Categeró) na Bahia o tem por um santo da batina preta. Esta é a cor das imagens de estátuas  postas a venda no mercado Modelo e, outros locais como,  no Pelourinho. O grande Categeró articulado da igreja Matriz de São Pedro deve ser, nesta concepção, a fonte desse uso e costume. A reprodução do beato por escravos não deveria contar com a possibilidade de acesso a um universo de cores, o preto era uma opção mais simples. Está deveria ser  a cor da batina dele quando o confeccionavam nas senzalas. E nessa formulação fica, também, a gratidão a quem ofereceu Categeró aos escravos – o agradecimento aos religiosos  jesuítas, que com suas batinas na cor negra,  com a cor deles – os escravos trouxe o ensinamento da palavra de Cristo no exemplo do “Tio Antônio”.

origem da batina 3

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress
Rolar para cima