SP/São Paulo – A janela (do Livro de cabeceira)

Anabel-Andres

 

O Blog de Anabel Andrés, no dia 10 de julho de 2007, uma sexta-feira, prestou uma singela homenagem a Santo Antônio de Categeró. O endereço dessa página de Anabel é: http://anabelica.blogspot.com/2009/07/da-janela.html

Livro de cabeceira

Textos que invento, trago guardados, meus, de amigos, de autores que calam em mim, me tocam, notícias dos meus trabalhos com o NOP – Núcleo Orgânico Performático http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=14926822, as Vozes Bugras http://www.myspace.com/vozesbugras a Cia. Danças, performances, improvisações, eventos, e considerações sobre atitudes cotidianas e suas reverberações no planeta. Bem vindo, bem vinda! Deixe seu comentário! Volte sempre!

 

SEXTA-FEIRA, JULHO 10, 2009

Seu texto dessa data é:                                                                 Da janela (Literatura)

Meu olho vê a janela para o Largo do Paissandu. Vejo os passantes e habitantes do largo em torno da igreja: as pombas, o gari, os tiozinhos conversando, descansando sentados na mureta do canteiro, os ônibus chegando e partindo. Polícia montada ao fundo. Paisagem. Vou em direção a ela.

Desço de elevador. Tem espelho, olho minha imagem, reflexo, olho cada pessoa que entra, trabalhadores do edifício: Galeria Olido. Desço.

Chego à porta da galeria, vejo aquele roqueiro barbudo de preto que sempre está aqui. Outro coordenador de equipe – me identifico com um sorriso. Espero o farol para cruzar na faixa, observo os grupos da porta da Galeria do Rock. Quantas tribos diferentes tem suas “sedes” em tão poucos metros! Cruzo.
Cheguei à paisagem da janela. Os tiozinhos continuam conversando, sentados na mureta do canteiro do jardim, um grupinho mais de perfil, e outro bem centralizado e de frente para a Av. S. João.
A “Mãe Preta” tá com flores na saia e vela amarela nos pés. Devoção. Será ela uma Oxum?

Tem muitos moradores daqui que me olham com curiosidade. Enquanto observo, interfiro na paisagem e no contexto habitual. Penso que é porque não passo, não estou passando, e quem não é daqui só passa. Vou anotando. O pessoal que habita mesmo no largo nem liga, vai se ajeitando para o fim de tarde, pendurando roupa, estendendo panos, o cachorro também se ajeita junto à mureta.
Turistas da África passeando. Imigrantes? Foto.
Achei o gari. Tava atrás da Igreja conversando com outro passante. Sorrindo. Contorno a Igreja. Entrei. N.S.do Rosário dos Homens Pretos. Santos Negros: Sto. Elisbão, Sta. Efigênia, São Benedito, Sto. Antônio do Cathegeró, mas tem tb N.S. das Dores, Sta. Edwiges, e S. Roque, que não são negros e muitos outros num dos altares laterais. Desde que cheguei há 3 fiéis rezando, e vários já entraram, pediram benção e foram. A religião católica na herança cultural brasileira tem tanto gestual bonito. Também reverencio e saio.
Cheiro de xixi, churrasco grego, jaula de zoo. Começa a juntar o grupo que joga cartas todo dia. Lugar de passagem onde há uma família residente.
Vou descendo a rua até a Igreja Marthin Luther, fechada. Aqui na Av. Rio Branco se transita, não se passa. Cabeleireiro, bar, lanchonete, sempre tem 2 ou 3 pessoas conversando, muitos velhinhos e velhinhas (devo pensá-los idosos?), e gente dormindo sentada em diversos estabelecimentos.
Vou olhando a fachada da Olido, desde a igreja também olhei, mas não registrei. Nem parece que podem haver olhos para cá.
N.Sra. do Rosário dos Homens Pretos – toda a história de desenvolvimento excludente que se deu desde que trouxeram navios lotados de africanos escravos está aqui refletida nesta praça, neste largo, nestas pessoas. A Martin Luther King tá fechada sempre que passo. “Eu tenho um sonho”… igualdade… fraternidade… Uma tatuagem-piercing humana (um humano tatuagem) passa. Tribos, rituais de encontro, identidades coletivas..
Como se relacionam os 3 centros deste pequeno trecho da Av. São João – Lgo. Paisandu, Galeria do Rock, Galeria Olido? Como coração, fígado e cérebro, quais os orgãos centrais deste corpo-centro da cidade?
Será quie já é hora de voltar para a reunião?
Não tiro conclusões, para onde me guiam essas observações, só depois de fermentar. A carga emocional pega. Entro na Olido. Um rapaz com ar ingênuo está procurando alguém, esperando. Anda de um lado para o outro sob a moldura do pórtico da galeria. Consulta o celular. Um casal me pergunta se sei onde fica uma joalheria, e sugiro que procurem na galeria oa lado. Eles não são daqui.
Quem é daqui? Os moradores de rua (para onde será que nos leva a história de cada um?). Mas aqui é de todo mundo que passa por aqui.
Volto ao elevador. A moça da catraca de entrada já não me reconhece. Subo com um artista que já vi, mas não sei quem é. Chego atrasada. Perdi a noção do tempo do relógio.

A autora decorou seu texto com a imagem: “Mãe Preta”, de Júlio Guerra.  Foto colhida no site http://www.aguaforte.com/osurbanitas7/BastosSalles.html, muito bonito e com o linck da foto a seguir: http://www.aguaforte.com/osurbanitas7/BastosSallesMPretaGuerraLargoPaissandu.jpg

A janela do livro da cabeceira 1

Anabel Andrés se autodefine como  Kin 56. Bailarina, musicista, arte-educadora, buscadora, mãe, às vezes previsível, às vezes surpreendente, às vezes invisível… um ser em construção.

Destaque-se os comentários de seu blog, desse texto:

Mi Br disse…Anabel
Adorei sua crônica da cidade.
Me chamou a atenção nessa Igreja dos Pretos, tem imagem de um Sto. Antônio do Categeró ? Minha mãe falava desse santo , mas nunca vi imagem dele. Se tiver , qualquer dia vou especialmente ver. É um santo negro , não é ?

Bjs Miriam

A1 julho, 2009, 10:45

Anabelica disse…

Oi, Mi, fiz um recorte, como um exercício de contextualização, proposto no Projeto Vocacional, e achei que podia compartilhar… Sto. Antonio do Categeró é um santo negro, e tem tb a imagem dele na igreja de N.Sra. do Ó, na Freguesia.É sempre bom falar contigo!

Bjo, bel 10 julho, 2009, 11:07

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